Diante do aumento significativo na produção global de roupas, o setor têxtil enfrenta um desafio ambiental sem precedentes. A proliferação de marcas de fast fashion contribuiu para uma escalada na fabricação de peças baratas, que, embora acessíveis, têm um custo social e ambiental elevado. Estimativas indicam que atualmente são produzidas cerca de 100 bilhões de peças de vestuário por ano, duas vezes mais do que em 2000. Esse crescimento exponencial gerou uma crise de resíduos, com impactos profundos na saúde humana e no meio ambiente. Além disso, a indústria é responsável por 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, além de consumir grandes quantidades de recursos naturais como água e energia.
O modelo de negócio linear, baseado na tríade extrair-produzir-descartar, tem sido apontado como um dos principais responsáveis pelo problema. Esse sistema não apenas promove a obsolescência programada das peças, mas também dificulta a reciclagem devido à complexidade das composições têxteis. Tecidos mesclados, que representam mais da metade do mercado, são particularmente problemáticos, pois suas fibras sintéticas liberam microplásticos durante lavagens e uso, contaminando os ecossistemas aquáticos e até mesmo o corpo humano. Além disso, a falta de infraestrutura adequada para a coleta de resíduos pós-consumo agrava ainda mais a situação.
Em resposta a essa crise, alguns atores do setor estão buscando alternativas sustentáveis. Empresas como a Cotton Move, especializada em projetos de circularidade na moda, já implementaram pontos de coleta de têxteis usados e trabalham com recicladores para transformar esses resíduos em novos materiais. No entanto, a escala do problema requer uma abordagem colaborativa envolvendo todos os elos da cadeia produtiva, desde produtores de fibras até varejistas e governos. A Responsabilidade Estendida do Produtor (REP) é uma proposta que ganha força, tornando as empresas responsáveis pela destinação final dos produtos que colocam no mercado.
Embora a conscientização dos consumidores esteja aumentando, com maior adesão a práticas de consumo consciente e reutilização de roupas, ainda há um longo caminho a percorrer. A doação de roupas, por exemplo, muitas vezes se revela um falso alívio, já que grande parte desses itens acaba em lixões ou poluindo áreas naturais em países em desenvolvimento. Para verdadeiramente mitigar o impacto ambiental da indústria têxtil, é necessário um esforço conjunto que inclua políticas públicas efetivas, inovação tecnológica e mudança cultural.
O futuro da moda sustentável depende da adoção de práticas circulares e da criação de sistemas robustos de logística reversa. A transição para uma economia mais verde e inclusiva exigirá compromisso de todas as partes envolvidas, desde produtores e consumidores até legisladores e organizações ambientais. Só assim será possível reduzir o enorme passivo ambiental deixado pela indústria têxtil e construir um futuro mais saudável para o planeta.