Entre os dias 23 e 25 de setembro de 2024, ocorreu o 1º Seminário Internacional do Coletivo Marta. Durante o evento, uma mesa-redonda destacou-se ao abordar políticas públicas e privadas para a diversidade no esporte. Os debates centraram-se em questões como inclusão étnica, gestão de arenas e políticas públicas relacionadas ao esporte e lazer. Um ponto de destaque foi a transformação dos estádios brasileiros em plataformas multifuncionais, especialmente o Mineirão, que agora funciona como um espaço multiuso onde o futebol é apenas um entre muitos serviços oferecidos.
Esse novo conceito levanta questões sobre a forma como esses espaços são percebidos e utilizados. A modernização imposta por normas internacionais trouxe mudanças estruturais e conceituais, impactando não apenas o design físico, mas também a maneira como o público interage com esses locais. Além disso, a ideia de "plataforma de entretenimento" sugere uma conexão mais ampla entre eventos esportivos, culturais e corporativos, redefinindo a centralidade do futebol nesses ambientes.
O Conceito de Plataforma de Entretenimento
O termo "plataforma de entretenimento" reflete uma mudança significativa na forma como os estádios são gerenciados e percebidos. Essa nova abordagem envolve a integração de múltiplos serviços e atividades, desde eventos esportivos até shows e conferências empresariais. O caso do Mineirão exemplifica essa transição, onde o futebol representa apenas uma pequena parte das datas ocupadas pelo estádio.
Essa transformação é impulsionada pela necessidade de maximizar a utilização dos espaços e aumentar as receitas. Empresas como FIFA e UEFA estabelecem regulamentos rigorosos que incentivam a diversificação das atividades nos estádios. Isso inclui a criação de áreas comerciais, museus, lounges e até mesmo a realização de casamentos ou eventos funerários. Nesse contexto, o conceito de plataforma digital, originado da economia de redes, é adaptado para descrever esses espaços multifuncionais. As plataformas digitais conectam usuários finais e empresas, criando ecossistemas econômicos que se expandem continuamente.
O sucesso dessas plataformas depende da interação entre práticas culturais e dimensões institucionais. A gestão do Mineirão utiliza estratégias que promovem engajamento nas redes sociais, atraiendo mais público e gerando dados valiosos para empresas e anunciantes. Quanto maior o número de usuários, mais atraente se torna a plataforma, permitindo investimentos em conteúdo e infraestrutura. Essa dinâmica cria um ciclo virtuoso que fortalece a posição do estádio no mercado de entretenimento.
Impactos Sociais e Culturais
A transformação dos estádios em plataformas de entretenimento tem implicações profundas nas formas de uso e apropriação desses espaços. Embora o futebol perca sua centralidade, ele continua sendo um elemento crucial para atrair torcedores e criar vínculos emocionais com o local. Essa dualidade permite que os gestores equilibrem tradição e inovação, mantendo a relevância do estádio em um cenário competitivo.
O exemplo do Mineirão ilustra como a modernização influencia não apenas a arquitetura, mas também as práticas culturais. A entrada no circuito de grandes eventos eleva o status do estádio, gerando circulação de capital e pessoas na região. No entanto, essa mudança exige um público específico, caracterizado pelo capital econômico e pela adoção de novos hábitos de consumo. A homogeneidade desse público é fundamental para preservar o valor das ofertas e garantir a lucratividade dos negócios desenvolvidos.
Analisar essas transformações é essencial para compreender como as plataformas moldam práticas culturais e vice-versa. Estudos futuros devem explorar como as pessoas se apropriam dessas novas experiências e como isso afeta suas relações com o espaço. O desafio está em equilibrar inovação e tradição, garantindo que os estádios continuem sendo lugares de encontro e celebração, além de centros econômicos. Nesse sentido, o Mineirão emerge como um exemplo emblemático dessa evolução, onde o futebol coexiste com diversas outras manifestações culturais e econômicas.