A moda, frequentemente associada a grandes marcas e passarelas internacionais, encontra um novo significado nas mãos de jovens estilistas das periferias de São Paulo. Liderada por Jaque Loyal, uma referência no movimento da moda periférica, a iniciativa está mudando a vida de muitos moradores da zona sul da cidade. Ao abrir caminho para novos talentos e promover a diversidade cultural, o projeto do Núcleo de Moda da Fábrica de Cultura do Jardim São Luís tem demonstrado que a criatividade não conhece fronteiras geográficas. Através de oficinas e exposições, os participantes têm a oportunidade de desenvolver suas habilidades e expressar suas histórias através da moda, alcançando plateias consideráveis e criando coleções colaborativas que celebram a identidade local.
Jaque Loyal, aos 27 anos, é uma figura inspiradora na comunidade de Capão Redondo. Desde cedo, ela percebeu o potencial transformador da moda. Aos 16 anos, ao lado de um amigo, abriu um brechó que se tornou o ponto de partida para sua marca, Loyal. Nos últimos 11 anos, Jaque não só expandiu seu próprio trabalho como também atuou como supervisora do Núcleo de Moda da Fábrica de Cultura do Jardim São Luís. Sob sua orientação, 26 aprendizes cresceram artisticamente e pessoalmente, desenvolvendo quatro desfiles e três coleções colaborativas. Estes projetos, que retratam experiências pessoais e culturais, alcançaram quase 800 pessoas e destacaram a importância da representatividade e da autenticidade na moda periférica.
O impacto do projeto vai além dos números. Para Kitty Oliveira, 26, a participação no Núcleo foi um divisor de águas. Ela descobriu sua paixão pela moda através de um curso de teatro e, desde então, vem explorando sua criatividade. Seus designs são inspirados na cultura japonesa e refletem sua jornada pessoal contra a depressão. Outra participante, Isa Iwanaga, 22, enfatiza a força coletiva e o senso de comunidade que o projeto fortaleceu. "Ver as pessoas da nossa vizinhança trabalhando juntas e tendo essa oportunidade é sensacional", destaca. Isa ressalta que esses esforços valorizam o talento de jovens que, muitas vezes, enfrentam barreiras de acesso e informação.
Juliana Rodrigues, 29, tatuadora e aluna do projeto, incorporou sua paixão pelas artes na pele em suas criações finais. Suas peças fazem referência a tatuagens africanas e pinturas hindus, mostrando que as artes locais têm muito valor. Para Juliana, este projeto representa uma grande porta que se abre para o mundo da moda. Ela reforça a necessidade de mais políticas públicas para apoiar jovens estilistas das periferias. “A moda começa na periferia”, afirma, salientando que a arte nessas áreas é frequentemente marginalizada. Jaque concorda e ressalta a importância de fomentar a moda não apenas como expressão criativa, mas também como empreendedorismo e moda circular.
Embora o Núcleo já tenha feito muito, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Jaque destaca a necessidade de mais apoio governamental para viabilizar o crescimento contínuo desses jovens talentos. Com equipamentos, máquinas e materiais disponíveis, o que falta é maior fomento, acessibilidade e suporte financeiro. Os aprendizes já possuem a criatividade; com o apoio certo, eles certamente irão longe. O futuro parece promissor, com novas vagas previstas para o início de 2025, trazendo esperança e oportunidades para mais jovens realizarem seus sonhos através da moda.