Neste contexto, a diversidade e inclusão não só de corpos, mas também de gênero e raça na moda, parece estar perdendo força tanto no Brasil quanto internacionalmente. Nos bastidores das passarelas, campanhas publicitárias e até mesmo nas redes sociais, a falta de representatividade é cada vez mais evidente. Um estudo divulgado em 2021 pela CFDA, instituição que representa a indústria de moda americana, revelou que apenas 57% dos funcionários negros do setor acreditavam que suas empresas agiam de forma eficaz em relação à inclusão racial e de gênero, enquanto entre os brancos esse percentual era de 77%. Este cenário certamente será impactado por mudanças políticas globais.
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e o fim das políticas de diversidade anunciado por ele podem intensificar este retrocesso. A influenciadora Luanda Vieira aponta que estamos vivendo um ciclo de altos e baixos após o boom dos movimentos #blacklivesmatter e #bodypositive. “Mesmo nas redes sociais, onde costumávamos pressionar em prol da diversidade, isso parece menos efetivo hoje”, afirma Luanda. O fotógrafo Gustavo Paixão, descendente indígena com 13 anos de experiência no setor, concorda. Ele destaca que, nos sets de moda, profissionais brancos ainda predominam. “É doloroso lutar sem ver resultados concretos”, desabafa.
A moda reflete as tendências comportamentais da sociedade. Movimentos como o "clean girl" e "trad wives", que exaltam a estética minimalista e o casamento tradicional, têm viralizado entre a geração Z. Estes fenômenos indicam um retorno aos padrões antigos, inclusive no universo fashion. A maquiadora Fernanda Suzz, mulher gorda, ressalta que a montagem de equipes diversas ocorre apenas quando há interesse comercial ou para filmagens nos bastidores. “As marcas utilizam a diversidade como marketing, mas raramente investem de verdade”, acredita. Fábio Monnerat, especialista em branding, explica que os grandes conglomerados seguem onde o dinheiro está. “Quando o mercado muda, vemos equipes diversas se desfazendo rapidamente”, analisa.
Pesquisas recentes da McKinsey & Company indicam que a diversidade étnica e de gênero melhora o desempenho financeiro das empresas. No entanto, a indústria da moda ainda carece de estudos específicos que comprovem seu impacto real. Sem dados robustos, é fácil abandonar a diversidade em um mundo com tantas questões políticas e conservadoras. “Portanto, 2025 pode ser igual ou pior, já que vivemos uma crise global”, reafirma Monnerat. Mesmo assim, há quem não desista. A beauty artist trans Maxi Weber treina outros profissionais para seguir seus passos. “Temos que impulsionar as comunidades, ajudar e acreditar em nós mesmas. Novas histórias fazem parte do progresso”, diz. À frente da etiqueta Nalimo, a estilista Day Molina promove uma equipe formada por mulheres diversas, trazendo um olhar de contestação sobre os privilégios na moda. “Quero construir uma história que fale de acessos, inovação e possibilidades. Inclusiva e antirracista, além da luta constante pela permanência feminina nos espaços.” Estamos com ela.