O universo da moda está em constante transformação, onde a linha entre tendência e estética se tornou cada vez mais tênue. Especialistas analisam como os comportamentos humanos influenciam as tendências e vice-versa, destacando que o termo "tendência" tem múltiplos significados, desde memes até comportamentos de longo prazo. A discussão sobre o que define o mundo fashion é um tema recorrente, com novas estéticas surgindo rapidamente, como quiet luxury, barbiecore e office siren. Este artigo explora a relação entre esses conceitos e como eles refletem as mudanças sociais e culturais.
Para compreender melhor essa dinâmica, Mariana Santiloni, pesquisadora e Head of Client Engagement da WGSN, destaca que uma estética geralmente surge a partir de uma tendência comportamental. Ela explica que pesquisar tendências significa entender as necessidades humanas e seu contexto. Muitas vezes, essas microestéticas são atualizações de conceitos já existentes, focadas em styling ou renomeações. O gerente de merchandising da Levi’s Brasil, Thiago Leão, complementa ao afirmar que a estética transmite permanência, enquanto a tendência está em constante evolução. Ele ressalta que a estética de uma marca reflete sua identidade e valores, enquanto a tendência de moda é um movimento temporário que captura desejos e influências culturais do momento.
As tendências são impulsionadas por fatores externos, como celebridades, redes sociais e avanços tecnológicos. Um exemplo notável é o aumento de 53% na presença da saia lápis nos desfiles de inverno 24/25, refletindo o desejo de peças sofisticadas após o fim do isolamento social. Além disso, as tendências podem criar contra-tendências, como o quiet luxury versus new money, ou o demure versus indie sleaze. Essas contraposições revelam a complexidade das escolhas estilísticas e a necessidade de rótulos para criar apelo comercial e urgência.
Flavia Brunetti, fundadora da plataforma de moda CAUSA, sugere que a construção da estética deve partir de escolhas e restrições pessoais, evitando a perda da identidade. Ela defende que as marcas devem usar as tendências como complemento, não como mudança de direção. Thiago Leão exemplifica isso com a expansão do catálogo da Levi’s, que manteve seu DNA baseado no jeans icônico, mesmo adaptando-se às tendências de cada época.
Mariana Santiloni observa sinais de que os "cores" estão perdendo espaço para tendências como "underconsumption core", que incentivam o consumo consciente. Movimentos como o "project pan" na beleza também promovem o uso de produtos já existentes. Diante de crises econômicas e sociais, os consumidores estão cada vez mais questionadores e criteriosos, buscando equilíbrio entre autenticidade e pertencimento social.