No último evento da semana de moda sustentável do Brasil, um designer quilombola originário de Jequié apresentou uma coleção que transcendeu o conceito tradicional de moda. Através de peças que contam histórias ancestrais, Dih Morais trouxe à passarela uma ode à memória, identidade e resistência. Suas criações não são apenas vestimentas; são narrativas tecidas em materiais naturais, evocando paisagens e tradições do sertão brasileiro. Este trabalho representa um marco na moda nacional, desafiando paradigmas e expandindo as fronteiras artísticas e culturais.
Em uma tarde inspiradora durante o outono carioca, o Brasil Eco Fashion Week testemunhou o nascimento de algo extraordinário. No coração do centro histórico de São Paulo, Dih Morais transformou seu ateliê num espaço de coletividade e resistência cultural. Sua estreia solo, intitulada Quilombo Barro Preto, foi mais do que uma simples coleção de roupas; ela personificou uma história viva, moldada pelas mãos habilidosas das mulheres do quilombo.
As tonalidades terrosas predominantes nas peças refletem a conexão profunda com a terra, enquanto elementos como linho e palha da costa remetem às lutas e conquistas do povo quilombola. Cada detalhe, desde os bordados até as biojoias criadas em parceria com artistas indígenas, conta uma história única. As bolsas de cabaça e barro, especialmente, simbolizam tanto a força quanto a fragilidade da comunidade, ecoando a dualidade presente em todas as formas de vida.
A coleção é um manifesto silencioso, mas poderoso. Ao colocar em destaque a estética e a produção artesanal quilombola, Dih Morais questiona os padrões dominantes da indústria da moda. Ele demonstra que a moda pode ser muito mais do que tendências passageiras; pode ser um veículo para lembrança, resiliência e construção de futuro.
Para quem acompanhou o desfile, ficou claro que cada peça carregava consigo o peso da história e a leveza da esperança. Os passos dos modelos na passarela pareciam ecoar os passos dados por Dih em sua infância, quando corria pelas ruas de terra de Jequié. Aquelas marcas antigas agora se transformaram em arte contemporânea, ocupando seu lugar legítimo no cenário mundial da moda.
Quilombo Barro Preto não é apenas uma coleção; é uma afirmação de identidade, uma celebração da ancestralidade e um convite à reflexão sobre nosso papel no mundo atual.
Como jornalista, fico impressionado com a capacidade de Dih Morais de unir passado e presente através de suas criações. Esta coleção nos lembra que a moda pode ser um meio poderoso para contar histórias, preservar memórias e promover mudanças sociais positivas. Ela nos convida a olhar além do superficial e a valorizar as raízes que nos conectam à terra e às gerações anteriores. É uma lição valiosa em um mundo onde muitas vezes esquecemos o verdadeiro significado das coisas.