No início de janeiro, a temporada de premiações nos Estados Unidos trouxe à tona uma nova dimensão para essa sinergia. O filme “Emilia Pérez”, dirigido por Jacques Audiard, conquistou quatro prêmios no Globo de Ouro, incluindo melhor filme estrangeiro. A produção contou com a participação de Saint Laurent Productions, que não apenas coproduziu o filme, mas também vestiu os protagonistas Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana e Selena Gomez. Essa colaboração permitiu que peças icônicas da marca fossem exibidas em um contexto dramático, reforçando a imagem de Saint Laurent como uma força criativa no cinema.
A figurinista Virginie Montel teve acesso aos arquivos e designs atuais de Anthony Vaccarello para criar looks autênticos que refletissem tanto a personalidade dos personagens quanto a estética da marca. Peças como um macacão floral usado por Gomez e uma bolsa bege usada por Saldaña ganharam destaque, não apenas na tela, mas também nas lojas online, demonstrando o potencial comercial dessas colaborações.
Jonathan Anderson, diretor criativo da Loewe, expandiu seus horizontes ao se aventurar no mundo do cinema. Ele trabalhou duas vezes com o diretor Luca Guadagnino, em “Challengers” e “Queer”. Em “Challengers”, ambientado em torneios de tênis, Anderson incorporou elementos das marcas Loewe, Chanel, Cartier, Uniqlo e Juicy Couture, criando um visual sofisticado e diversificado. A camiseta “I Told Ya”, inspirada em JFK Jr., tornou-se um item desejado, vendido por US$ 330, enquanto um moletom similar custava US$ 690, mostrando como a moda pode ser uma extensão lucrativa da narrativa cinematográfica.
Em “Queer”, Anderson explorou a moda vintage da década de 1950, criando uma coleção cápsula para a JW Anderson. Moletons, camisetas, bonés e bolsas apresentavam trechos do filme, proporcionando aos fãs uma conexão tangível com a história. Essa abordagem não apenas enriqueceu a narrativa, mas também ofereceu novas oportunidades de merchandising, alinhando estilo e substância.
A Netflix também está capitalizando essa tendência, como visto em “Fly Me to the Moon”, uma comédia romântica espacial estrelada por Scarlett Johansson. No filme, um relógio Omega Speedmaster Professional, famoso por ter sido o primeiro relógico a pisar na Lua durante a missão Apollo 11, é destacado como parte essencial da trama. Johansson interpreta uma executiva de marketing que cria uma campanha publicitária em torno do relógio, explorando sua história e simbolismo. Esse exemplo ilustra como a moda pode ser integrada de forma orgânica à narrativa, sem parecer intrusiva ou fora de contexto.
A escolha do Omega não foi acidental; a marca tem uma longa história de inovação e confiabilidade, perfeitamente alinhada com a temática espacial do filme. Ao associar o produto a uma história envolvente, a Omega não apenas promove seu relógio, mas também fortalece sua imagem de marca, destacando-se em um ambiente competitivo.
Outro lançamento recente da Netflix, “It Ends with Us”, dirigido por Blake Lively, destaca a presença da moda de maneira ainda mais marcante. A protagonista usa várias peças da Carhartt, transformando a marca em um personagem em si. Além disso, Valentino aparece através de uma bolsa com logotipo V, que acompanha a personagem durante todo o filme. Essa integração cuidadosa não só adiciona autenticidade à narrativa, mas também cria uma forte associação entre a marca e a personagem principal.
Essa estratégia levanta questões sobre os riscos e benefícios do modelo tradicional de inserção de produtos. Enquanto algumas marcas podem parecer invasivas, outras conseguem se fundir perfeitamente à história, oferecendo um valor adicional ao público. Blake Lively, conhecida por seu estilo pessoal elegante, também incorporou itens de seu próprio guarda-roupa no filme, adicionando uma camada extra de autenticidade e exclusividade.
Desde 2023, a Netflix tem repensado sua estratégia de conteúdo, optando por investimentos mais focados e de alta qualidade. Com Bela Bajaria e Dan Lin à frente, a empresa busca equilibrar a quantidade com a excelência, reduzindo gastos em produções massivas e apostando em filmes que oferecem maior retorno financeiro e cultural. Isso inclui a diversificação de receitas através de merchandising pago, onde a moda desempenha um papel crucial.
Com 46,5% do conteúdo previsto para ser original em 2025, a Netflix reconhece a importância de parcerias estratégicas com marcas de moda. Essas colaborações não apenas enriquecem as produções, mas também abrem novos canais de receita, garantindo a sustentabilidade financeira da plataforma. A moda, portanto, não é apenas um acessório no cinema, mas uma peça fundamental para o sucesso de ambos os setores.